Disposição voluntária

Por: Daniela Araújo e Fernanda Viegas

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O ABC em outros acordes
           
Ensinar a irmã mais nova a aprender as primeiras letras com a música estimulou um sonho ainda maior: “minha revolução pessoal, para poder fazer crianças serem melhores”. Esse é o início do projeto Música construindo gente: uma alternativa inteligente de se construir, encontrar e despertar talentos e da trajetória de Jule Pires Amaral, que desde 2007 desempenha esse trabalho com alunos da Escola Estadual Effie Rolfs na cidade de Viçosa – MG.
            Na Universidade Federal de Viçosa (UFV), Jule cursa Educação Física que lhe propicia um conhecimento didático e pedagógico e a auxilia no relacionamento professor-aluno. Segundo ela, o primeiro passo é criar o respeito mútuo e a amizade se desenvolve naturalmente. Afirma, também, que os professores das demais disciplinas contribuem amplamente para que as aulas de música sejam ministradas semanalmente.
            Esse sentimento de cooperação é recíproco. “Ela é muito responsável, muito dedicada, tem um carinho muito especial com os alunos. Ela é maravilhosa”. É a opinião da professora da 3ª série, Nilza Aparecida que considera as aulas de música muito importantes por dar continuidade aos temas trabalhados nas demais disciplinas.
            Na 1ª série também é realizado assim. A professora Leda Milagres contou que as aulas de música vão além do simples cantar, é um período de aprofundamento do assunto tratado na música. Como exemplo, o meio ambiente que foi abordado durante algumas semanas, por meio das músicas, construção de murais e, por fim, apresentação do coral na Feira de Ciências da escola.
O maestro Rogério Moreira de Campos foi coordenador do projeto e já orientou outros trabalhos com música e educação na mesma escola. Ele afirma que a importância desse tipo de projeto é permitir que as crianças conheçam estilos musicais que, normalmente, não teriam acesso pela mídia convencional. E ao mesmo tempo valoriza a divulgação da música popular brasileira.
De acordo com a Jule, o objetivo do projeto é despertar as capacidades interativa, criativa e sensitiva dos alunos, bem como, criar a intertextualização do conteúdo abordado em sala, por meio de temas musicais. Durante as aulas, a estudante estimula a memória das crianças ao contextualizar as letras musicais com a realidade infantil e ao incentivar outras formas artísticas, como o desenho para ilustrar a música aprendida. Além disso, há o cuidado na diferenciação do trabalho com os alunos de faixas etárias distintas. Com a série mais nova, busca-se valorizar o lúdico e a irreverência e para as crianças da série posterior o conteúdo é o estudo da teoria musical. Contudo, em ambas as atividades tem-se a preocupação em fornecer o conhecimento de culturas brasileiras e o despertar para o “cantar”.
É notável o prazer que sentem as crianças ao participarem das aulas de música. A presença da professora Jule é esperada com muito carinho, e assim que ela chega à escola todos correm para recebê-la com abraços. O envolvimento da turma é percebido com a dedicação com que fazem os trabalhos e o encanto que demonstram nas aulas. É bonito ver como soltam a voz, o sorriso e a alegria de ser criança. Com esse entusiasmo, a expectativa é que nos próximos anos as aulas se estendam para mais dezessete turmas.

Ensino Alternativo
A utilização da música como instrumento para o ensino aprendizagem é um método eficaz que possibilita diminuir eventuais problemas de aprendizagem e dispersão. A psicóloga Ester Ireno explica que o comportamento de ficar concentrado responde a um estímulo ou a um conjunto de estímulos, e não propriamente a um acontecimento. Não é o fato de a professora contar uma história que prende a atenção do aluno, e sim o método que ela escolhe para desenvolver a narrativa. “A música por gerar sentimentos agradáveis e fazer parte do cotidiano de qualquer criança aumenta a probabilidade de que elas tenham maior interesse nas atividades escolares.”
O comportamento de aprender é o resultado de uma interação entre o organismo e o ambiente. As deficiências que podem ocorrer nesse processo advém de uma falha em um desses fatores. E nesse caso, uma alternativa possível é a alteração no método. Para tanto, o uso do lúdico se mostra viável. Os jogos, as histórias, o teatro, o desenho, a pintura, a música devem ser utilizados sem restrição quando visam aperfeiçoar o processo educativo. Até mesmo na educação de jovens e adultos é recomendado esse método, uma vez que essas pessoas também apresentam dificuldades de concentração e conciliação dos estudos com o cotidiano. “O importante é não colocarmos toda culpa de uma dificuldade de aprendizagem ou de desenvolvimento na própria pessoa”. É necessário fugir do tradicional, acredita Ester.

 

 

 
CCOM - Curso de Comunicação Social