Teatro Solidário promove interação entre UFV e comunidade viçosense instigando o amor pela representação 

Por Lara Carlette e Daniela Pinheiro

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"O teatro, como arte, não se preocupa com o trivial e corriqueiro, o sem valor, mas sim com as açoes nas quais os personagens investem e arriscam suas vidas e sentimentos, opçoes morais e políticas: suas paixoes" assim ressalta Augusto Boal, ícone do teatro brasileiro, em seu livro "O arco-íris do desejo".

Longe de ser uma visão restrita aos teóricos e livros, o Grupo Teatro solidário da UFV também trabalha com essa perspectiva. Teatro Solidário é um projeto de extensão que desenvolve a cultura e a arte através de oficinas teatrais. Proposto pelos alunos Marcelo Oliveira Santos e Fabrício Henrique Figueiredo, a iniciativa tem o apoio da DAC (Divisão de Assuntos culturais) da universidade e é coordenada pelo ator e jornalista Luciano Valle de Ulhoa Cintra.

Criada em 2000 ainda como "Companhia Universitária de Teatro", recebeu em 2004 a denominação utilizada atualmente. O curso tem em média um ano de duração e uma carga horária de tres horas semanais divididas em dois encontros. As oficinas do curso são realizadas no auditório do Departamento de Economia Doméstica (DED) e contam com a participação dos alunos da UFV, das escolas E.F. Rolfs e o COLUNI, e de toda a comunidade viçosense, o que torna possível a aproximação entre a cidade e a instituição.

A crescente demanda pela participação no projeto, e a heterogeneidade desta, tornou necessária a realização de processos de seleção nos períodos ímpares e também horários variados de encontros.

A conclusão do curso dá-se com a apresentação de uma peça teatral, em geral, de caráter humorístico. O s espetáculos são apresentados também no auditório do DED, em finais de semana, com ingressos no valor de R$5,00.

As técnicas corporais e interpretativas desenvolvidas durante as oficinas vão muito além do aprendizado técnico ou prático. Estas extrapolam os movimentos físicos ou simples repetiçoes de falas, a encenação teatral tem um caráter transcendente, é o que revela Luciano Sérgio, "o mundo não é mais tecnicista, o palco deve ter um caráter libertador".

Roselly Gonçalves, que participou como aprendiz no projeto, confessou ter tido dificuldades de realizar os movimentos físicos solicitados pelas oficinas, "fazer o cisne voador era muito complicado, mas eu gostava muito. Era como uma terapia, saía de lá relaxada e alegre, pois não tinha apenas uma presença física, entrava em contato com as pessoas e com a arte".

Ariadne Morgan, ex-aluna do projeto, também o considera de fundamental importância em sua formação pessoal e profissional. De acordo com ela, sua postura diante de pessoas desconhecidas, sua forma de trabalhar em equipe e sua criatividade foram muito aguçadas pelo teatro.

Contudo, iniciativas como essa, não se restringem a UFV. Em várias universidades federais também são desenvolvidos projetos que possibilitam ao aluno um maior contato com a arte através do teatro. Contos, Estórias e Mentiras - CEM Cia. de Teatro, desenvolvido na UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) é, assim como o Teatro solidário, um exemplo de projeto artístico universitário que se repete em um considerável número de instituiçoes de ensino públicas e privadas do país.

No segundo governo Lula, iniciado em 2006, o incentivo a atividade teatral na universidade se deu por um programa de seleção de projetos de todo país para receberem investimentos financeiros governamentais. A seleção seria feita pelo programa Jovens Artistas, Ética da Vida e do Poético, da Secretaria de Educação Superior (SESU/MEC) e cada projeto selecionado contaria com até R$ 30 mil, para formação e qualificação de profissionais, atividades de extensão e divulgação de resultados de pesquisas de teatro.

Entretanto políticas como essa, infelizmente não são suficientes para sustentar projetos em todo o país. Os recursos internos destinados para a área cultural das universidades federais, quase nunca satisfazem suas reais necessidades. No caso do Projeto Solidário, os recursos são bastante escassos.

Fernando Peixoto em seu livro "o que é teatro" diria, "O teatro existe na duração do espetáculo. Uma arte auto-destrutiva", entretanto, apesar ser condicionado pelo espaço e pelo tempo, a reflexão e a percepção de mundo criada nas mentes de cada receptor são infindas e interruptas. O teatro não é via exclusiva de diversão e entretenimento, mas também de cultura e formação de idéias e de pensadores. Segundo o coordenador do projeto solidário, a formação do público viçosense é uma das maiores conquistas do projeto. "Um público que sabe ouvir, que sabe apreciar, formado não só pelos estudantes, mas também pelas pessoas da cidade. É isso, que com muito esforço conseguimos" diz ele.

Como diria Shakespeare "O teatro é o espelho onde se reflete a natureza" e o teatro oprimido é um espelho onde podemos penetrar e modificar a nossa imagem. Construiu-se assim, na uma forma ativa e solidária de teatro.  
 
Contato:
Luciano Cintra - DAC - UFV
lucianocintra@ufv.br

No início do ano são abertas as inscriçoes para a seleção de alunos para teatro solidário 2009. Não perca essa oportunidade!

Foto: http://photo-a-trois.blogspot.com/2007/03/teatro.html

 
CCOM - Curso de Comunicação Social