A futura escassez de combustíveis fósseis e a tendência a uma economia sustentável têm incentivado o desenvolvimento de biocombustíveis em todo o mundo. Até o momento, a soja domina o cenário de produção de bioenergia, por ser uma cultura já consolidada, com sementes ideais para o plantio e maquinário especializado para a colheita. No entanto, está longe de ser a melhor alternativa, pois produz pouca quantidade de óleo por hectare, sendo necessárias áreas muito extensas para que a produção seja satisfatória. Além disso, sua maior importância está na questão alimentícia, por possuir proteínas muito importantes na nutrição de suínos e aves. A concorrência entre a indústria alimentícia e a energética tem desviado essa função.
Diante dessa situação, em 2004, o Governo Federal lançou um edital pela CNPq para que pesquisadores de todo país dessem início a estudos com oleaginosas não domesticadas. Propunha o desenvolvimento de tecnologias que possibilitassem a multiplicação in vitro da Palmeira de Dendê, considerada como a solução para a produção de biodiesel nacional.
No entanto essa palmeira é natural de regiões úmidas como a região amazônica, não sendo viável seu cultivo em climas mais secos como do sudeste, centro-oeste, nordeste e parte do norte.
Considerando esse aspecto, o professor Sérgio Motoike, em conjunto com outros pesquisadores do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), está desenvolvendo uma técnica para a multiplicação da Palmeira de Macaúba, planta oleaginosa capaz de produzir tanto óleo quanto o dendê.
Essa planta é nativa de regiões de clima seco e é encontrada em grandes maciços. Por já estar adaptada ao ambiente natural, a preparação de solos para seu plantio requer menor impacto ambiental. Aliás, a presença da Macaúba pode regenerar pastagens devastadas, que em Minas somam 12 milhões de hectares.
Um dos aspectos mais interessantes dessa cultura é a possibilidade de integração com a pecuária. Além de melhorar a qualidade do pasto, proporciona sombra para o gado e ajuda na irrigação do solo, pois suas folhas e o longo caule reto captam a água da chuva e fazem seu escoamento até o chão. Essa integração é ainda mais interessante ao pequeno e médio produtor, que pode manter outro tipo de atividade enquanto a Palmeira não render lucros.
A bovinocultura é um dos responsáveis pela produção de gases do efeito estufa. Parte dos gases emitidos é absorvida pela pastagem, mas outra parte contamina a atmosfera. Com a inserção de outra planta no local, como a Macaúba, o que seria emitido ao ambiente é absorvido pela planta e ainda gera créditos de carbono.
Além do óleo, que até então era utilizado para a fabricação de xampu, sabão e a lubrificação de telhas, o fruto também pode ser totalmente aproveitado, como a amêndoa que se transforma em torta para alimentar o gado e as fibras que se transformam em carvão de excelente qualidade.
Em ambiente natural a planta germina cerca de 3%, mas com os experimentos realizados na UFV, a germinação já chega a 80%. De acordo com Motoike, o cultivo da macaúba com fins a produção de biodiesel somente é viável em um raio de 50 km de distância da indústria processadora, uma vez que o fruto é altamente perene.
Segundo o professor Aziz Galvão, do Departamento de Economia Rural, um dos responsáveis pelo Projeto Biodiesel, a Macaúba é uma planta com grande potencial para a produção energética, mas para que essa cultura se consolide, muita coisa ainda precisa ser feita. O custo para a implantação ainda é alto e por ser uma planta perene, o auge da colheita demoraria cerca de seis anos. Logo, o pequeno e médio produtor somente teria condições de iniciar a atividade mediante financiamentos, que até o momento não existem.
As primeiras mudas serão plantadas entre os meses de dezembro de 2008 e fevereiro de 2009 na localidade de Lima Duarte. O estudo já foi patenteado pela UFV e há quem acredite que a Macaúba é a soja da nova geração.
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