Pequena grande praga

Por Pedro Ivo Nunes Almeida

 

A grande praga da cultura cafeeira é uma larva que emerge a partir dos ovos de uma mariposa com menos de 7 milímetros. Quando nasce, a lagarta fica entre as epidermes da folha, ao se alimentar forma galerias nas folhas, denominadas minas, daí o nome bicho-mineiro (Leucoptera coffeella).

A planta atingida por essa praga perde um número bem alto de folhas, isso interfere diretamente na produção do cafezal, já que os frutos de café dependem da folha para se desenvolver. O pesquisador Eraldo Lima afirma que de acordo com os últimos estudos da Embrapa, ao ser atacado por essa praga o cafezal pode apresentar perdas de 40% na produção. Podendo essa marca ser ultrapassada dependendo de fatores como temperatura, pluviosidade e umidade de uma região, por exemplo. Mas o modo de condução do cafeeiro e o espaçamento entre as plantas também são decisivos nesses números.

A maneira mais comum de quantificar a praga no cafeeiro é com amostragens de folhas de cafés em determinadas áreas de uma lavoura. As folhas são analisadas e se mais de 20% estiver atacada é necessário o combate efetivo à praga. Existem várias outras formas de saber o número de insetos na plantação, o professor Eraldo Lima e sua equipe propuseram um estudo para que o monitoramento seja feito com armadilhas de feromônios.

Eraldo participa de um grupo de estudos de semioquímicos, que possui um laboratório de feromônio e comportamento de insetos, onde basicamente os integrantes do grupo estudam a comunicação, principalmente química, entre os insetos e entre insetos e plantas.

Uma pesquisa realizada desde o ano 2000 estuda a identificação e o comportamento da liberação do feromônio sexual do bicho-mineiro. A partir disso foi desenvolvido um método de monitoramento dessa espécie. Parte da pesquisa desenvolvida determinou quantas armadilhas são necessárias para se colocar no campo: 1 armadilha a cada 4 hectares. Esse monitoramento serve ao agricultor como uma ferramenta para se ter a noção de quantos insetos tem no campo, e assim determinar se é necessário ou não uma medida de controle.

O monitoramento ocorre com uma armadilha: uma casinha de cor branca e piso de cola, de fácil manuseio e instalação. No interior da armadilha tem um pequeno liberador com um produto químico que quando liberado imita uma fêmea, e atrai os machos do inseto, que ao entrar em contato com o piso fica colado. Uma ou duas vezes por semana, o agricultor conta o número de machos presos à armadilha e, desta forma, fica sabendo a quantidade do bicho em sua lavoura.

Cabe dizer que a armadilha não é para combater a praga, mas para mostrar a população indicada em determinada área num determinado período. A técnica é umas das motivações para os estudos nessa área, pois o método de coleta de folhas (amostragem) é bastante trabalhoso. A armadilha evita esse trabalho e é mais precisa, de acordo com o pesquisador.

Quando um cafezal está sendo atacado e precisa de controle de praga existem várias maneiras de combate: o combate biológico, que é o natural feito pelo predador da mariposa, como as espécies de vespa: Latreille (Brachygastra lecheguana), Ihering (Polybia paulista) e Saussure (Protopolybia exígua), mas esse combate não consegue controlar de forma efetiva sua presa (o bicho-mineiro); e o combate químico, com o uso de inseticidas, feito principalmente com pulverização (aplicação direta na folha) e granulados sistêmicos (aplicação no solo), tem sido a forma de combate mais rápida e estratégica.

Entretanto, alguns pesquisadores, como Marcelo Ribeiro da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), condenam o uso de inseticidas. Ele afirma que a utilização deste é perigosa, pois pode afetar outros organismos além do bicho-mineiro, como pássaros e insetos. Também acrescenta que o homem pode ser prejudicado por resíduos tóxicos.

Outra linha de pesquisa em expansão é a desenvolvimento de plantas tolerantes ao bicho-mineiro. É o caso da espécie de Coffea arábica chamada de siriema. O pesquisador da Epamig Antônio Alves Pereira afirma que o cultivar de siriema já é uma realidade, e outras espécies também estão sendo estudadas para se obter outras plantas resistentes à praga. A resistência não é totalmente efetiva, pois se um cafezal estiver infestado é possível que essa planta seja atingida pela praga, mas de maneira muito mais branda. O estudo de cafeeiros tolerantes a pragas teve início, principalmente, por motivos como a diminuição de custos e redução de impacto ambiental.

Para o produtor ter contato e utilizar os estudos realizados pelos pesquisadores, é necessário haver uma ligação entre o pesquisador e o produtor. Essa ligação existe, mas não é direta, esta é feita pela extensão. De maneira simples a estrutura funciona de tal forma: o pesquisador passa os conhecimentos para o extensionista, e os técnicos da extensão repassam para o produtor. Essa estrutura daria conta, mas atualmente ela se encontra um pouco de dificuldades de funcionar bem, ambos os lados (pesquisa e extensão) reconhecem as falhas.

O contato do produtor com os resultados de pesquisas é fundamental, pois os estudos são feitos para serem aplicados. É preciso que os produtores e consumidores tenham conhecimento acerca do que é descoberto por pesquisadores, e isso é mais efetivo quando é realizado pela extensão. Dessa maneira erros cometidos por produtores poderiam ser minimizados, como o combate a pragas baseado apenas na presença ou não de insetos numa lavoura. Com isso é possível que a plantação seja mais lucrativa e viável economicamente.

Contatos:

Professor Eraldo Lima
Departamento de Entomologia
Universidade Federal de Viçosa
Telefone: 3899 2914 / 3899 2913
E-mail: mothman@ufv.br

Marcelo de Freitas Ribeiro
Pesquisador da Epamig
E-mail: mribeiro@epamig.ufv.br

Antônio Alves Pereira
Pesquisador da Epamig
E-mail: pereira@epamig.ufv.br

Telefone Epamig: 3899 5223

 
CCOM - Curso de Comunicação Social